Alguns setores, que defendem a ideia de que as pessoas só podem ter acesso àquilo que puderem pagar, dizem que a melhor saída para acabar com a corrupção seria privatizar tudo o que for possível, desde serviços públicos essenciais aos mais complexos, incluindo empresas estatais estratégicas que são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do país.
Inicialmente, é preciso lembrar que o Brasil ainda é marcado por profundas desigualdades sociais, os serviços públicos garantem que o Estado possa oferecer não apenas Saúde, Educação e segurança pública, mas também consiga desenvolver a proteção ao meio ambiente, geração de emprego e renda, infraestrutura, assistência social, cultura, urbanismo, gestão ambiental, abastecimento, desenvolvimento agrário, habitação, previdência social, saneamento, transporte e inúmeras outras ações.
Ou seja, reduzir o papel do Estado significaria impedir que milhões de brasileiros tenham acesso a direitos básicos, bem-estar e condições dignas de vida.
Para convencer a população de que é necessário reduzir o papel do Estado, alguns setores enganam a população dizendo que a corrupção na iniciativa privada seria menor.
Não é bem por aí.
Primeiramente, o serviço público e as empresas estatais são regidos por normas severas. Além disso, servidores públicos pegos em desvios de conduta e corrupção são demitidos, presos e perdem suas carreiras.
Com o aprimoramento da democracia no Brasil, órgãos de controle foram sendo criados para que a gestão pública fosse cada vez mais eficaz e responsável.
Controladoria-Geral da União (CGU), Tribunal de Conta da União (TCU) e dos Estados (TCE), Ministério Público (MP) e Conselho De Controle De Atividades Financeiras (COAF) são alguns exemplos de instituições que fiscalizam o Poder Público.
Além disso, a Lei da Transparência, criada em 2009, jogou uma luz aos gastos do Poder Público ao obrigar que a União, estados e municípios divulguem, na internet, seus gastos.
Já na iniciativa privada, a situação é bem diferente. As formas de controle sobre a corrupção privada são muito menores.
E muitos casos mostram que mesmo empresas gigantescas estão sujeitas à corrupção:
A Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (portanto, entidade patronal) estima que a corrupção custa ao Brasil cerca de R$ 130 bilhões por ano. Ou seja, a corrupção é inegavelmente um problema sério que precisa ser resolvido.
Mas há um dado ainda mais alarmante:
Estudos estimam que empresas privadas soneguem perto de R$ 570 bilhões por ano no Brasil.
Como a sonegação fiscal também retirar recursos essenciais do Estado, que seriam aplicados para melhorar a vida da população, seu impacto sobre a vida de toda a sociedade é imenso.
Sem recursos provenientes de impostos, União, estados e municípios são impedidos de desenvolver e ampliar políticas públicas em áreas essenciais como Educação, Saúde, Segurança pública, Infraestrutura e muitas outras.
É por isso que a privatização dos serviços públicos não acaba com a corrupção. Na verdade, aumenta os prejuízos para todos os brasileiros.
Além disso, a própria legislação brasileira é pouco severa sobre a movimentação de recursos de empresas brasileiras, especialmente fora do país.
Portanto seja aqui ou no exterior, a sonegação de impostos é geralmente praticada por empresários, gestores e acionistas, desejosos de ampliar suas margens de lucro.
No poder público, diferentemente dos servidores concursados (de carreira), os funcionários comissionados sem concurso são pessoas que assumem cargos graças a indicações políticas ou alianças com governos. Esses são os chamados “apadrinhados políticos”.
Em tese, o comissionado até poderia ser um especialista para um cargo específico à condução de políticas públicas. Mas na prática, mostra-se uma porta aberta para desvios e corrupção.
E a maioria dos casos de corrupção envolvendo empresas estatais ou órgãos de governo no Brasil têm como agentes principais funcionários não concursados e empresários.
Está claro que a privatização não é a saída para combater essas diferentes formas de corrupção. Então, qual seria a solução?
Primeiramente, é preciso implementar formas ainda mais eficazes de controle, especialmente sobre o sistema financeiro e tributário. Do mesmo modo, é necessário combater a sonegação, para evitar que o gigantesco volume de recursos desviados impeça o Estado de investir na melhoria da qualidade de vida da população.
Dessa forma, é preciso estabelecer formas de transparência sobre indicações políticas, e reduzir drasticamente a quantidade de funcionários comissionados sem concurso.
Por fim, a valorização do serviço público, com estrutura, salários condizentes e mecanismos mais eficazes de gestão é um passo essencial nessa caminhada, porque o que é público deve ser para o benefício de todos.
Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa)
© Sintespo. Todos os direitos reservados.
Please login or subscribe to continue.
No account? Register | Lost password
✖✖
Are you sure you want to cancel your subscription? You will lose your Premium access and stored playlists.
✖